AVALIAR: O QUÊ? PARA QUÊ? PARA QUEM?
Clarilza Prado de Souza
Era uma vez...
Uma rainha que vivia em um grande castelo.
Ela tinha uma varinha que fazia as pessoas bonitas ou feias, alegres ou tristes, vitoriosas ou fracassadas. Como todas as rainhas, ela também tinha um espelho mágico.
Um dia, querendo avaliar sua beleza, ela perguntou ao espelho:
- Espelho, espelho meu, existe alguém mais bonita do que eu?
O espelho olhou bem para ela e respondeu:
- Minha rainha, os tempos estão mudados. Esta não é uma resposta assim tão simples. Hoje em dia, para responder a sua pergunta eu preciso de alguns elementos mais claros.
Atônita, a rainha não sabia o que dizer. Só lhe ocorreu perguntar:
- Como assim?
- Veja bem, respondeu o espelho. — Em primeiro lugar, preciso saber por que Vossa Majestade fez essa pergunta, ou seja, o que pretende fazer com minha resposta. Pretende apenas levantar dados sobre o seu IBOP no castelo? Pretende examinar seu nível de beleza, comparando-o com o de outras pessoas, ou sua avaliação visa ao desenvolvimento de sua própria beleza, sem nenhum critério externo? É uma avaliação considerando a norma ou critérios predeterminados? De toda forma, é preciso, ainda, que Vossa Majestade me diga se pretende fazer uma classificação dos resultados.
E continuou o espelho:
- Além disso, eu preciso que Vossa Majestade me defina com que base devo fazer essa avaliação. Devo considerar o peso, a altura, a cor dos olhos, o conjunto? Quem devo consultar para fazer essa análise? Por exemplo: se consultar somente os moradores do castelo, vou ter uma resposta; por outro lado, se utilizar parâmetros nacionais, poderei ter outra resposta. Entre a turma da copa ou mesmo entre os anões, a Branca de Neve ganha estourado. Mas, se perguntar aos seus conselheiros, acho que minha rainha terá o primeiro lugar. Depois, ainda tem o seguinte — continuou o espelho: — Como vou fazer essa avaliação? Devo utilizar análises continuadas? Posso utilizar alguma prova para verificar o grau dessa beleza? Utilizo a observação?
- Finalmente, concluiu o espelho, — Será que estou sendo justo? Tantos são os pontos a considerar...”
A rainha ficou imaginando o que fazer para obter resposta. (...)
(adaptado de Utilization-Focused Evaluation. Londres, 1997, de Michael Quinn Patton)
REFLEXÕES E COMENTÁRIOS SOBRE O TEXTO
Pensando a avaliação nesse contexto percebo o quanto ela é importante e necessária nas escolas atualmente, uma vez que nos últimos anos tem se difundido muito uma concepção de escola autônoma e com gestão participativa. Porém, não me refiro aqui à avaliação da aprendizagem, aquela que todo professor faz com seu aluno. Mas sim, a avaliação da escola como um todo, ou seja, como se deu ao longo de determinado período, as relações, os encaminhamentos, enfim, dizer quais foram os entraves e os facilitadores do desenvolvimento do trabalho escolar. Isso significa avaliar para tomada de decisão, como diria Luckesi, são pontos de partida e não de chegada.
Não queremos ser como a rainha que tinha a intenção apenas de constatar a sua beleza. Precisamos ser e agir mais como o espelho mágico, que é coerente com sua concepção e vê a avaliação como prática social, intencional e comprometida com uma visão de mundo.
E finalmente, um recadinho para aqueles que se propõem a serem avaliados: estejam preparados para ouvir todas as opiniões, as boas e as nem tão boas assim, e principalmente, não se empolguem demais com os elogios a ponto de transformar-se na rainha que só quer constatar o que já existe e acima de tudo, não se melindrem com as críticas a ponto de transformar a avaliação em um mal estar geral!
O segredo é aceitar tanto elogios quanto críticas de forma a transformá-los em reflexão comprometida com a melhoria das condições de trabalho, almejando assim, a tão sonhada educação de qualidade!
FONTE: http://professoramagna.blogspot.com/2006/12/avaliar-o-qu-para-qu-para-quem.html
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